O primeiro termo eu sei de quem se trata, conheço bem todos os defeitos, qualidades e insanidades. O segundo poderia ser substituído, sem alteração de sentido, por um desenho daquele músculo involuntário, composto por 2 átrios e 2 ventrículos, que bombeia o sangue para todas as partes do corpo. Mas e o terceiro membro? Do qual nada sei, mas espero tudo? Presente em meus devaneios. Devaneio do meu presente. É incógnito, embora tenha sido aclamado com veemência e carência impares nos últimos tempos. Tome forma, é o brado que emana forte e puro. Apareça, desenhe-se! Venha ser o presente do meu presente. Por tempo indeterminado, intensidade não comedida – há sim, é, há espaço! Mas cuidado com o meu nível de exigência e não desafie a minha liberdade.
Saí da Zona Norte rumo à Zona Leste. Para percorrer este trajeto precisei pegar dois ônibus: o primeiro, na esquina da minha casa, que demorou mais do que o habitual, e o segundo na Avenida Celso Garcia, pouco depois da Ponte da Vila Guilherme. Não havia trânsito no caminho do primeiro ônibus, que leva também a marginal, e eu consegui chegar rapidamente ao ponto onde passa segunda condução.
Foi justamente neste ponto que começaram os meus problemas. O ônibus que eu esperava demorou muito e quando chegou, eu, no afã de entrar o mais rápido possível, fiquei presa na porta. Isso mesmo: a porta fechou em mim. Felizmente não sofri nenhum ferimento, apenas constrangimento. Quando me recuperei do susto, o motorista soltou um sonoro “Viu, de novo!”, para o cobrador.
Neste instante reparei que o problema não foi a minha pressa, mas sim a porta que estava com problemas e fechava sozinha. Ótimo consolo pra quem está atrasado.
O caminho inteiro foi cheio dessas surpresas desagradáveis. O cortês cobrador segurava a porta de trás para que ela não fechasse enquanto as pessoas desciam, com isso ganhava mãos vermelhas e doloridas. Já na porta da frente não havia o que se fazer. O ônibus parou. Ótimo eu nem estava atrasada mesmo. Os passageiros, que cochilavam, despertavam assustados.
“O que aconteceu?”, me perguntou uma senhora num banco ao lado, “O motorista está ligando pra garagem, pra ver se resolve o problema das portas”, esclareci.
Motorista resmunga, cobrador queixa-se de dor nas mãos, o telefone da garagem não atende. Seguimos.
Nas calçadas, mais pessoas dão sinal e o motorista pára novamente, com ressalvas de cuidado e atenção, temeroso de que algum velhinho se machuque gravemente e ele seja responsabilizado. Já com mais de 75% da viagem realizada ele finalmente desiste, pára o ônibus e faz com que todos desçam. A viagem deles terminou. A minha apenas 10 minutos depois, em mais um ônibus.