- Você pagou para ver o Wagner Moura desafinar? Eu assisti de graça pela TV.
- Pois é, e eu vivi.
Um amigo fez o comentário acima quando descobriu que eu fui uma das oito mil pessoas que compareceram ao Espaço das Américas para acompanhar o segundo show do Tributo à Legião Urbana, organizado pela MTV e que, além de Dado Villa-Lobos na guitarra e Marcelo Bonfa na bateria, contou com o convidado Wagner Moura nos vocais.
Entendo que para quem está olhando de fora as desafinadas do ator devem ter incomodado bastante. Quando digo “quem está olhando de fora” não estou me referindo a quem não esteve no show, mas sim aos que não entenderam o que aquele tributo significou: uma homenagem de fãs a uma banda cujas letras os acompanharam, e acompanham, por toda a vida.
"A verdadeira Legião Urbana são vocês" (Renato Russo) |
Cada música tocada era uma viagem pessoal dos quatro aos meus 21 anos de idade, com direito a lembranças de lugares, pessoas e amores. A penúltima da setlist original, “Pais e Filhos”, foi o ápice da minha emoção. Mas uma grande surpresa ainda estava por vir.
Eu nunca tinha imaginado cantar Faroeste Caboclo em um show. Com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfa no palco, então, era surreal demais para que um dia sequer passasse pela minha cabeça. E inacreditavelmente aconteceu. Alguns dos nove dos minutos mais emocionantes da minha vida.
Quando a plateia começou sozinha a contar a história de João de Santo Cristo, no intervalo, eu já achei sensacional, mas a iniciativa parecia não ter sensibilizado os músicos, que continuavam seguindo o script. No final, quando Wagner Moura chamou os dois legionários de lado e Dado dedilhou os primeiros acordes na guitarra, meu coração disparou.
Não chorei, mas agora tenho vontade todas as vezes que eu lembro. Não chorei, mas fiquei arrepiada durante os nove minutos e cantei forte, alto, com o coração. Uma das minhas músicas preferidas desde os quatro anos de idade lavou a alma da plateia, do tributo e de Wagner Moura, que deu vida à história do sertanejo que tentou ganhar a vida na capital federal.
Eu poderia gravar aquela propaganda de cartão de crédito, cujo slogan é “não tem preço”, falando desse show. Mas ainda assim não conseguiria explicar a importância para os que estão de fora. Afinal, eu não assisti ao show, eu vivi.