24 novembro 2014

um pouquinho de tênis, vai...

Ainda não caiu a ficha direito de como esse ano foi especial para os “meus meninos suíços”.

Aos 33 anos, Roger Federer voltou a ser regular no circuito, depois de um 2013 desastroso, retomou a segunda colocação do ranking, fez inúmeras finais de Masters 1000, protagonizou duelos eletrizantes contra o número 1, Novak Djokovic, inclusive a final do seu Grand Slam preferido, Wimbledon.

A decisão do Finals não rolou, mas na semana seguinte veio a inesquecível conquista da Copa Davis, sacramentada por ele com a vitória sobre Richard Gasquet, mas construída pelo suicinho: Stanislas Wawrinka.

O ano de 2014 foi o melhor de todos para o menino que tem a esquerda mais bonita do circuito. Tudo começou com a conquista do primeiro Grand Slam da temporada: o Australian Open.

Nunca vou esquecer uma declaração dele, duas semanas antes, após conquistar o ATP 250 de Chennai: perguntaram o que faltava pra ele chegar ao top-5 e ele respondeu “pra isso, é preciso vencer um Grand Slam, e isso não vai acontecer”. Em janeiro ele chegou a posição número três do ranking e se tornou por alguns meses o número 1 da Suíça.

Depois disso, ainda veio a conquista do primeiro Masters 1000, no saibro de Monte Carlo, justamente sobre Roger Federer, contra quem ele também protagonizaria o jogo mais emocionante do ATP Finals, que certamente causou calafrios aos franceses. Entre uma coisa e outra, Stan teve atuações desastrosas, desclassificações para tops 50 em primeiras rodadas e coisas do tipo.

Mas voltou a ser #IronStan no momento certo: para ajudar o amigo (sim, porque amigo que é amigo briga mesmo) Roger Federer a conquistar um dos únicos títulos que lhe faltavam: a Copa Davis, a primeira da história da Suíça, que ele, Stan, não deixou de representar em detrimento ao circuito nenhuma vez.

Parabéns, Stanzinho. Parabéns, Roger.

e super obrigada ;)


01 maio 2014

“Eu era feliz e não sabia”

Ora, se você não sabia, não era feliz. Simples assim.

A felicidade tem a ver com uma sensação de satisfação, um sentimento bom, inquietante e, invariavelmente, consciente. 

Se não teve isso, você pode ter falhado na linha evolutiva da vida e desejar voltar no tempo, mas não seja injusto com o destino, dizendo que não sabia que vivia uma época feliz, e não me venha com o anacronismo de comparar o seu momento atual com outra época e sair por aí todo saudosista. 

A frase “eu era feliz e não sabia” é repetida muitas vezes em relação à infância/adolescência, momento da vida em que sabemos claramente que temos um mundo de escolhas pela frente. Essas escolhas continuam valendo durante toda a vida, mas a maioria das pessoas simplesmente não percebe e, por isso, deseja voltar no tempo em que havia ‘felicidade’. Bobagem.

A felicidade é a única coisa que importa e você está fazendo alguma coisa muito errada se ‘sente saudade’ dela. Bom mesmo será se você a tiver em todos os momentos, mas se isso não for possível, vislumbre-a à frente, mas por perto.

01 junho 2013

A disponibilidade total e irrestrita

#QuemNunca sentiu o coração
disparar ao ver esse ícone nas
notificações do celular?
Com custo quase zero, o WhatsApp revolucionou o mundo da comunicação instantânea. Uma mistura de msn com sms, o aplicativo para celulares conquistou milhões de usuários nos últimos anos. Ele é prático, permite o envio gratuito de mensagens para outro celular que também possua o aplicativo, tem emotions engraçadinhos, permite a criação de grupos, além de diversas outras ferramentas de interação.

Acho lindo e utilizo muito, mas tem ali uma coisa me incomoda: a cobrança pela instantaneidade das respostas que o programa possibilita que os usuários cobrem um dos outros. Você enviou a mensagem, ela chegou ao destinatário (você viu pelos dois certinhos do lado direito da caixa de texto), o seu “amigo” do outro lado ficou online, mas não respondeu na hora. Pronto, já vira motivo pra briga: “Ele é um fdp, eu mandei WhatsApp, ele viu e não respondeu”.

No msn, até o incorporarem ao e-mail, sabíamos que a troca de mensagens seria instantânea durante todo o tempo em que estivéssemos online. Uma vez off, essa obrigatoriedade acabava. Para estar on precisávamos estar disponíveis em frente a um computador. A loucura que o WhatsApp proporciona é a inversão disso: por ser um aplicativo para celulares, o usuário está disponível o tempo todo e, diferentemente do que acontece com as velhas mensagens de texto, não pode se dar ao luxo de deixar pra responder depois que já é dedurado pelo programa.

Obviamente que a minha crítica aqui não é ao aplicativo, mas aos usuários. Esse tipo de ferramenta alimenta a carência e o sentimento de inferioridade das pessoas, que no mundo em que vivemos já possuem pouca estrutura psicológica e emocional e aproveitam qualquer brecha para criar uma cena dramática. Ninguém para pra pensar que respostas a longo prazo denotam um maior tempo para reflexão. Qualquer tipo de texto precisa de tempo para ser pensado e ficar coeso, se você procura reações imediatas, escolheu a forma de comunicação errada.

O Facebook também adotou há alguns meses essa função “dedo duro”, mostrando quando você visualizou a resposta, mesmo que não tenha respondido, o que ocasiona o mesmo turbilhão de sentimentos que eu citei acima falando do “Whats”. Esses serviços estão nos deixando ainda mais mimados, “queremos respostas e queremos agora!”. Se a sensação proporcionada pelos smartphones de estar disponível o tempo todo já é aterrorizadora, ter a obrigação de responder na hora é quase uma ferramenta de tortura psicológica.

26 maio 2013

Somos tãooooo jóóóóóóóóvensssss

Demorei demais para respirar fundo e ter coragem de encarar o Renato Russo nas telonas. Quando eu vi o trailer de “Somos tão Jovens” me emocionei bastante e achei que fosse ter que assistir ao filme com uma caixa de lencinhos de papel em mãos. Engano meu: não derramei nenhuma lágrima.

Não gostei do que vi. Eu leio sobre o rock de Brasília desde os meus 12 anos de idade. Já ouvi aquela história que o filme conta – o Renato nos primórdios da carreira, quando ainda tocava na banda punk “Aborto Elétrico” – da boca de quase todos os que estão vivos e fizeram parte dela... Dinho, Fê, Flávio, Bonfá, Dado, Barone, Hebert, Clemente, etc.

Por isso, com esse repertório adquirido durante anos, achei o roteiro de Marcos Bernstein fraco, óbvio demais. Os discursos me pareceram construídos objetivamente, preocupados apenas em transmitir a informação de forma didática.

Uma coisa que me incomodou bastante também foi a construção do Renato para que ele pudesse ser consumido “pela família brasileira”. Uma das coisas que me passou pela cabeça logo que eu fiquei sabendo do filme foi: “vão mostrar o Renato punk, já sei que vou tampar os olhos quando mostrarem ele furando a orelha com o alfinete”. Adivinha: não mostraram! Esse fato, um dos mais marcantes do viés punk do cantor, é apenas citado pela dona Carmem em determinado momento.

Outro fato que demonstra o caráter “feito para a família” do filme é a forma como a sexualidade do Renato foi exposta. Não tiveram coragem de mostrar um beijo gay. Focaram absurdamente na “paixonite” dele pela Flávio (retratado como um baby, sendo que ele é apenas um ano mais novo do que o Fê) e camuflaram toda a preferência dele “por meninos” com a bonita história de amizade entre ele e a Aninha (que não existiu...).

O Renato que eu construí com o passar dos tempos era muito mais intenso do que o que eu vi na tela do cinema. O movimento punk brasileiro foi bem mais “punk”, rs, do que eles mostraram ali, sobretudo quando você vive na capital federal na época da ditadura. Outra cena que faltou: Renato perguntando aos milicos: “quantos livros você já leu na vida?”.

No final do filme, aparece o Capital Inicial tocando “Música Urbana”. A história de como essa música foi escrita é incrível... Fê e Flávio tinham os primeiros versos escritos por Renato na época do Aborto, eles e o Dinho quebraram a cabeça para continuar a música, não conseguiram. Pediram ajuda ao Renato que estava se recuperando depois de cortar um dos pulsos e ele disse na hora: “escreve aí...” e fechou a música.

Mas, claro, a família brasileira não pode admitir que o seu “ídolo” tenha cortado o pulso, talvez tentado o suicídio – ninguém sabe exatamente o porquê -, então, né. Pra que mostrar? Vamos ficar com a parte bonita da história. Nosso recorte especial.

Para encerrar, tenho mais duas coisas a dizer. A primeira é uma dica aos interessados nesse assunto: assistam o DVD “MTV Especial: Capital Inicial Aborto Elétrico”, de 2005. Ali eles contam toda essa história em detalhes, com entrevistas com os verdadeiros personagens, ajuda muito na distinção entre a realidade e a visão do roteirista/diretor.

A segunda é: mesmo com tantas críticas, acho importante levar Renato à massa. Fico aqui no meu cantinho enviando vibrações para que alguns sejam picados pela mosquinha da curiosidade e vão atrás da “verdade”.

06 fevereiro 2013

O meu anjo torto

Drummond foi o meu anjo torto
Conheci Carlos Drummond de Andrade aos 16 anos de idade e ele mudou a minha vida. Antes de encontrar a poesia, e ele foi o meu mentor neste mundo colorido, eu não sabia que outra pessoa, que sequer me conhece, poderia saber muito sobre o que eu sinto. Claro que não poderia ser uma pessoa qualquer, tem que ser assim um Drummond. Eu digo sempre e repetirei todas as vezes que tiver uma brecha: o poeta de Itabira sabe mais sobre mim do que eu mesma. Drummond foi o meu anjo torto, que me visitou quando eu nasci para este novo mundo.

O dia a dia, que junta todas aquelas coisas burocráticas, certinhas e quadradas, teima em nos afastar do mundo do arco-íris que existe na dimensão poética. Mesmo sendo pouco visitado, ele continua lá. É só entrar e se aconchegar... no meu caso, sempre que consigo me desligar daqui e ir pra lá, encontro Drummond sentado no chão, com um sorriso nos finos lábios e um livro na mão. Leio, leio, leio. No fim, ele sempre acerta. Na mosca.

Nestes seis anos, foram inúmeras poesias encontradas ao abrir os seus livros, alguns tão especiais que se tornaram "livros de cabeceira". Foi em um desses, o "Alguma Poesia", que eu encontrei o poema que publico abaixo. É um daqueles que eu comentei acima, que depois que você termina de ler, pensa: "como ele conseguiu descrever o que eu tô sentindo?".

APARIÇÃO AMOROSA

Doce fantasma, por que me visitas
como em outros tempos nossos corpos se visitavam?
Tua transparência roça-me a pele, convida
a refazermos carícias impraticáveis: ninguém nunca
um beijo recebeu de rosto consumido.

Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz,
mesma voz, mesmo timbre,
mesmas leves sílabas,
e aquele mesmo longo arquejo
em que te esvaías de prazer,
e nosso final descanso de camurça.

Então, convicto,
ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve
e continua existindo, puro som.
Aperto… o quê? a massa de ar em que te converteste
e beijo, beijo intensamente o nada.
Amado ser destruído, por que voltas
e és tão real assim tão ilusório?
Já nem distingo mais se és sombra
ou sombra sempre foste, e nossa história
invenção de livro soletrado
sob pestanas sonolentas.
Terei um dia conhecido
teu vero corpo como hoje o sei
de enlaçar o vapor como se enlaça
uma idéia platônica no espaço?

O desejo perdura em ti que já não és,
querida ausente, a perseguir-me, suave?
Nunca pensei que os mortos
o mesmo ardor tivessem de outros dias
e no-lo transmitissem com chupadas
de fogo aceso e gelo matizados.

Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me desola.
Tua visita, apenas uma esmola.