27 junho 2010

Nos bastidores da política nacional

Militante do PT e assessora de Lula em 1989, Maria Ester Costa afirma que “o Bolsa-Família valeu cada segundo de passeata, comício, assembleias de classe das quais participei.”

Formada em História e Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Maria Ester Costa trabalha há mais de 25 anos com assessoria de imprensa voltada para políticos. Como destaque no seu currículo possui a participação na primeira campanha do presidente Lula, em 1989. Sobre esse e outros pontos relevantes de sua carreira conversamos com Ester, que nos contou um pouquinho dos bastidores do universo mítico da política nacional.

Bruna Moraes: Antes de se tornar assessora de imprensa você já gostava de política?
Maria Ester Costa: Sim, fui militante política no sindicato dos bancários na década de 80 e participei das manifestações contra a ditadura.

Bruna: Você acha que é fundamental ter esse gosto prévio pelo assunto? Ou o seu conhecimento de alguma forma te atrapalhou durante a carreira?
Ester: Eu acho muito melhor trabalhar com um assunto que você ache importante, acredite. Pode ser qualquer um, mas desde que se tenha alguma identificação acho que fica tudo mais fácil. Pode ser moda, economia, culinária, esportes, mas acho que é um bom começo gostar do assunto sobre o qual vamos escrever.

Bruna: Durante a sua carreira chegou a trabalhar com alguém em quem não acreditasse?
Ester: Não, tive muita sorte, em grande parte só escrevi sobre assuntos que achava interessante e trabalhei com pessoas que eu achava que tinham interesse em fazer algo de bom para o país.

Bruna: Com esses anos de experiência, acredita que é correto afirmar que a política transforma as pessoas?
Ester: Eu acho que a política nos torna mais inteligentes, mais capazes de analisar o mundo, é um super exercício intelectual, mas também com o tempo a gente vê muitos que acreditávamos desistindo de suas ideias e fazendo o mesmo que criticavam nos políticos tradicionais

Bruna: Você assessorou o presidente Lula, em sua primeira campanha em 1989, como ele era naquela época?
Ester: A campanha era paupérrima e havia muito preconceito contra ele, mas ele era muito acessível, vinha gente de todo o país visitar o comitê, pessoas ligadas aos movimentos populares, de luta pela terra. Foi uma campanha muito emocionante e romântica, apesar do jogo pesado de Collor, que acabou vencendo.

Bruna: E qual foi a sensação de vê-lo assumir a presidência em 2003? Chegou a pensar que era, de certa forma, uma vitória sua também?
Ester: Eu fui a Brasília na posse. Fui, na verdade, ajudar a mostrar as forças populares a que ele estava ligado, quem ele representava. Acho que a minha geração tem muito a ver com a vitoria de Lula, foi uma vitória de muitos de nós, também.

Bruna: E com ele no poder, a utopia virou realidade?
Ester: Em muitos aspectos sim. Costumo dizer que o Bolsa-Família valeu cada segundo de passeata, comício, assembleias de classe das quais participei. O Brasil está melhor, só o que para mim ainda é uma dúvida terrível é a educação. Não podemos aceitar e dizer que é bom, um pais que tenha 20% de analfabetos funcionais e o ensino com a qualidade inferior ao da Bolívia, como costumava dizer Darcy Ribeiro.

Bruna: Voltando o foco agora para toda a sua carreira, você lembra agora de alguma saia justa que tenha passado? Alguma entrevista que tenha marcado e o jornalista fugiu do tema, ou algum programa em que havia outros convidados que desagradavam seu cliente, ou caso semelhante?
Ester: Sim, um jornalista disse que ia falar sobre um assunto e veio com uma denuncia, com as perguntas prontas, sem dar chance para o meu assessorado argumentar. Na época ele era famoso por publicar coisas negativas do governo de Luiza Erundina. Foi muito chato ver a notícia publicada no dia seguinte, no final teve processo de ambos os lados, meu assessorado mandou distribuiu uma carta falando mal do jornalista, foi uma confusão.

Bruna: E o que fazer em situações como esta? E quando o candidato fica estigmatizado, é melhor assumir o estigma ou tentar criar outro?
Ester: Administrar a crise e depois gerir a situação, eu acho, ir analisando com cuidado as situações e deixar o tempo fazer sua parte para que as coisas saiam da pauta, caiam no esquecimento

Bruna: Para finalizar, Ester, gostaria de saber se com todo esse seu envolvimento e experiência política, já pensou, ou pensa, em se candidatar?
Ester: Só de pensar já teria um monte de gente querendo acabar comigo (rs). É um universo muito competitivo, eu não sei se teria capacidade para lidar com isso, acho os bastidores mais divertidos.

---
Repordução integral do Trabalho de Jornalismo Básico da Faculdade Cásper Líbero

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente você também!