Por muito tempo - desde os 12 anos de idade quando eu decidi que queria ser jornalista e trabalhar com esporte – eu fui atormentada por tios, tias, amigos, conhecidos e vizinhos que me diziam que, para trabalhar com isso, eu teria que deixar o fanatismo de lado, teria que deixar o Palmeiras de lado para ser imparcial.
De certa forma, isso aconteceu depois que pisei pela primeira vez em uma redação de esportes. Em parte porque eu acreditava mesmo que sendo fanática, não conseguiria ser uma boa profissional. Ainda acho que isso é verdade, mas de uma forma mais ampla: todo fanatismo atrapalha e nunca vale a pena.
Não deixei de torcer pelo meu Palmeiras, embora a ansiedade tenha diminuído bastante. Na verdade, o que aconteceu foi que optei por não prestar muita atenção para não sofrer – e assim não demonstrar sofrimento. Mas foi na redação, e nas cabines dos estádios, que eu percebi que todo jornalista torce, por mais que não escreva, não fale ou não sinalize isso. Ser profissional não é não torcer, é conseguir fazer um bom trabalho mesmo torcendo.
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A camiseta explica o momento: "groupie" |
No entanto, se eu conseguia (e consigo) camuflar toda essa palmeirenssisse, o que eu nunca consegui foi esconder o carinho imensurável pelos meus ídolos. Os grandes jogadores que vestiram a camisa verde e branca seguem uma ordem hierárquica de idolatria no meu coração, em que a primeira posição é dividida por Felipão, Edmundo e Marcos.
Sempre imaginei o que eu faria se encontrasse com um dos três, antes e depois de “virar” jornalista. O único que eu encontrei até agora foi São Marcos. Da primeira vez que o vi, nada pude fazer além de segurar o gravador – estava no prédio da administração do Palestra, ao lado de onde será construída a nova Arena, numa coletiva sobre um programa de sócio-torcedor. Lembro dele, com um copo de cerveja nas mãos, dizer para os jornalistas: “gente, preciso ir no banheiro, mas to aí, viu?”, provando que aquele carisma da TV era real (não que eu tenha duvidado disso em algum momento).
Da segunda vez, foi tudo previamente programado. Eu sabia que ele seria o convidado do Mesa Redonda e que o horário de chegada dele bateria com o meu de saída do plantão, apenas cinco andares acima. Desci.
A tietagem não durou muito tempo, apenas um beijo e uma foto, o suficiente para encher esse coração palmeirense de alegria.
O momento foi gravado e acabou virando sinônimo de “tietagem” também no Gazeta Esportiva do dia seguinte. Fiquei envergonhada e até hoje não tive coragem de ver. Levei bronca de um colega de trabalho, mas todos os outros, inclusive os chefes, passaram a mão na minha cabeça: com o Marcão, pode.