01 junho 2013

A disponibilidade total e irrestrita

#QuemNunca sentiu o coração
disparar ao ver esse ícone nas
notificações do celular?
Com custo quase zero, o WhatsApp revolucionou o mundo da comunicação instantânea. Uma mistura de msn com sms, o aplicativo para celulares conquistou milhões de usuários nos últimos anos. Ele é prático, permite o envio gratuito de mensagens para outro celular que também possua o aplicativo, tem emotions engraçadinhos, permite a criação de grupos, além de diversas outras ferramentas de interação.

Acho lindo e utilizo muito, mas tem ali uma coisa me incomoda: a cobrança pela instantaneidade das respostas que o programa possibilita que os usuários cobrem um dos outros. Você enviou a mensagem, ela chegou ao destinatário (você viu pelos dois certinhos do lado direito da caixa de texto), o seu “amigo” do outro lado ficou online, mas não respondeu na hora. Pronto, já vira motivo pra briga: “Ele é um fdp, eu mandei WhatsApp, ele viu e não respondeu”.

No msn, até o incorporarem ao e-mail, sabíamos que a troca de mensagens seria instantânea durante todo o tempo em que estivéssemos online. Uma vez off, essa obrigatoriedade acabava. Para estar on precisávamos estar disponíveis em frente a um computador. A loucura que o WhatsApp proporciona é a inversão disso: por ser um aplicativo para celulares, o usuário está disponível o tempo todo e, diferentemente do que acontece com as velhas mensagens de texto, não pode se dar ao luxo de deixar pra responder depois que já é dedurado pelo programa.

Obviamente que a minha crítica aqui não é ao aplicativo, mas aos usuários. Esse tipo de ferramenta alimenta a carência e o sentimento de inferioridade das pessoas, que no mundo em que vivemos já possuem pouca estrutura psicológica e emocional e aproveitam qualquer brecha para criar uma cena dramática. Ninguém para pra pensar que respostas a longo prazo denotam um maior tempo para reflexão. Qualquer tipo de texto precisa de tempo para ser pensado e ficar coeso, se você procura reações imediatas, escolheu a forma de comunicação errada.

O Facebook também adotou há alguns meses essa função “dedo duro”, mostrando quando você visualizou a resposta, mesmo que não tenha respondido, o que ocasiona o mesmo turbilhão de sentimentos que eu citei acima falando do “Whats”. Esses serviços estão nos deixando ainda mais mimados, “queremos respostas e queremos agora!”. Se a sensação proporcionada pelos smartphones de estar disponível o tempo todo já é aterrorizadora, ter a obrigação de responder na hora é quase uma ferramenta de tortura psicológica.

26 maio 2013

Somos tãooooo jóóóóóóóóvensssss

Demorei demais para respirar fundo e ter coragem de encarar o Renato Russo nas telonas. Quando eu vi o trailer de “Somos tão Jovens” me emocionei bastante e achei que fosse ter que assistir ao filme com uma caixa de lencinhos de papel em mãos. Engano meu: não derramei nenhuma lágrima.

Não gostei do que vi. Eu leio sobre o rock de Brasília desde os meus 12 anos de idade. Já ouvi aquela história que o filme conta – o Renato nos primórdios da carreira, quando ainda tocava na banda punk “Aborto Elétrico” – da boca de quase todos os que estão vivos e fizeram parte dela... Dinho, Fê, Flávio, Bonfá, Dado, Barone, Hebert, Clemente, etc.

Por isso, com esse repertório adquirido durante anos, achei o roteiro de Marcos Bernstein fraco, óbvio demais. Os discursos me pareceram construídos objetivamente, preocupados apenas em transmitir a informação de forma didática.

Uma coisa que me incomodou bastante também foi a construção do Renato para que ele pudesse ser consumido “pela família brasileira”. Uma das coisas que me passou pela cabeça logo que eu fiquei sabendo do filme foi: “vão mostrar o Renato punk, já sei que vou tampar os olhos quando mostrarem ele furando a orelha com o alfinete”. Adivinha: não mostraram! Esse fato, um dos mais marcantes do viés punk do cantor, é apenas citado pela dona Carmem em determinado momento.

Outro fato que demonstra o caráter “feito para a família” do filme é a forma como a sexualidade do Renato foi exposta. Não tiveram coragem de mostrar um beijo gay. Focaram absurdamente na “paixonite” dele pela Flávio (retratado como um baby, sendo que ele é apenas um ano mais novo do que o Fê) e camuflaram toda a preferência dele “por meninos” com a bonita história de amizade entre ele e a Aninha (que não existiu...).

O Renato que eu construí com o passar dos tempos era muito mais intenso do que o que eu vi na tela do cinema. O movimento punk brasileiro foi bem mais “punk”, rs, do que eles mostraram ali, sobretudo quando você vive na capital federal na época da ditadura. Outra cena que faltou: Renato perguntando aos milicos: “quantos livros você já leu na vida?”.

No final do filme, aparece o Capital Inicial tocando “Música Urbana”. A história de como essa música foi escrita é incrível... Fê e Flávio tinham os primeiros versos escritos por Renato na época do Aborto, eles e o Dinho quebraram a cabeça para continuar a música, não conseguiram. Pediram ajuda ao Renato que estava se recuperando depois de cortar um dos pulsos e ele disse na hora: “escreve aí...” e fechou a música.

Mas, claro, a família brasileira não pode admitir que o seu “ídolo” tenha cortado o pulso, talvez tentado o suicídio – ninguém sabe exatamente o porquê -, então, né. Pra que mostrar? Vamos ficar com a parte bonita da história. Nosso recorte especial.

Para encerrar, tenho mais duas coisas a dizer. A primeira é uma dica aos interessados nesse assunto: assistam o DVD “MTV Especial: Capital Inicial Aborto Elétrico”, de 2005. Ali eles contam toda essa história em detalhes, com entrevistas com os verdadeiros personagens, ajuda muito na distinção entre a realidade e a visão do roteirista/diretor.

A segunda é: mesmo com tantas críticas, acho importante levar Renato à massa. Fico aqui no meu cantinho enviando vibrações para que alguns sejam picados pela mosquinha da curiosidade e vão atrás da “verdade”.

06 fevereiro 2013

O meu anjo torto

Drummond foi o meu anjo torto
Conheci Carlos Drummond de Andrade aos 16 anos de idade e ele mudou a minha vida. Antes de encontrar a poesia, e ele foi o meu mentor neste mundo colorido, eu não sabia que outra pessoa, que sequer me conhece, poderia saber muito sobre o que eu sinto. Claro que não poderia ser uma pessoa qualquer, tem que ser assim um Drummond. Eu digo sempre e repetirei todas as vezes que tiver uma brecha: o poeta de Itabira sabe mais sobre mim do que eu mesma. Drummond foi o meu anjo torto, que me visitou quando eu nasci para este novo mundo.

O dia a dia, que junta todas aquelas coisas burocráticas, certinhas e quadradas, teima em nos afastar do mundo do arco-íris que existe na dimensão poética. Mesmo sendo pouco visitado, ele continua lá. É só entrar e se aconchegar... no meu caso, sempre que consigo me desligar daqui e ir pra lá, encontro Drummond sentado no chão, com um sorriso nos finos lábios e um livro na mão. Leio, leio, leio. No fim, ele sempre acerta. Na mosca.

Nestes seis anos, foram inúmeras poesias encontradas ao abrir os seus livros, alguns tão especiais que se tornaram "livros de cabeceira". Foi em um desses, o "Alguma Poesia", que eu encontrei o poema que publico abaixo. É um daqueles que eu comentei acima, que depois que você termina de ler, pensa: "como ele conseguiu descrever o que eu tô sentindo?".

APARIÇÃO AMOROSA

Doce fantasma, por que me visitas
como em outros tempos nossos corpos se visitavam?
Tua transparência roça-me a pele, convida
a refazermos carícias impraticáveis: ninguém nunca
um beijo recebeu de rosto consumido.

Mas insistes, doçura. Ouço-te a voz,
mesma voz, mesmo timbre,
mesmas leves sílabas,
e aquele mesmo longo arquejo
em que te esvaías de prazer,
e nosso final descanso de camurça.

Então, convicto,
ouço teu nome, única parte de ti que não se dissolve
e continua existindo, puro som.
Aperto… o quê? a massa de ar em que te converteste
e beijo, beijo intensamente o nada.
Amado ser destruído, por que voltas
e és tão real assim tão ilusório?
Já nem distingo mais se és sombra
ou sombra sempre foste, e nossa história
invenção de livro soletrado
sob pestanas sonolentas.
Terei um dia conhecido
teu vero corpo como hoje o sei
de enlaçar o vapor como se enlaça
uma idéia platônica no espaço?

O desejo perdura em ti que já não és,
querida ausente, a perseguir-me, suave?
Nunca pensei que os mortos
o mesmo ardor tivessem de outros dias
e no-lo transmitissem com chupadas
de fogo aceso e gelo matizados.

Tua visita ardente me consola.
Tua visita ardente me desola.
Tua visita, apenas uma esmola.

22 janeiro 2013

Ohhhh, a Rádio Rock voltouuuu

Ilustração de bom gosto
Há cerca de um mês a Rádio Rock voltou ao dial paulistano. Estávamos órfãos de uma emissora que tocasse rock de todas as eras, do clássico ao que está sendo produzido nos dias de hoje e as novidades das antigas bandas. Quem curte o estilo estava até então restrito à Kiss FM, focada em classic rock, já que a Brasil 2000 e a Mit FM acabaram no último ano.

Além de recolocar o rock nas ondas médias, o mais legal deste projeto abraçado pelo UOL foi manter apresentadores antigos. Luka, Maia, Tatola, PH, Cadu, Eric... comandando os mesmo programas daquela época: Perdidos, Pressão Total, 89 minutos... Rola aquela nostalgia, saber?

Não sou das “mais velhas” e nem acompanhei muito destes anos ilustres que eu citei, mas a Rádio Rock marcou a minha infância. Era o único adesivo que o meu pai permitia que fosse colado no carro dele, onde o rádio sempre estava sintonizadana 89 FM e onde também nos divertíamos ouvindo os Sobrinhos do Athaíde.

Acho graça dos “mais jovens”, daquela galerinha que não curtiu os tempos áureos da Rádio Rock na década de 1990 – oficialmente ela virou pop em 2006, mas nos últimos anos já estava decante – e fica eufórica ao ouvir a sua música preferida do Green Day tocando no rádio.

Muito legal eles terem mantido o logo clássico e curti demais uma ilustração com uma fênix, a ave que ressurge das cinzas, envolvendo um violão. É bem isso.

17 janeiro 2013

Santa Sé.

Eu nunca fui a Roma e não conheço a Basílica de São Pedro – embora já tenha visitado diversas vezes a sua descrição no meu exemplar do Guia Michelin – mas imagino a sensação de pequenez que quem entra ali deve sentir. Aliás, o tamanho dos seus templos era uma forma de a Igreja Católica demonstrar seu poder na Idade Média. Apesar das intenções dela serem absolutamente refutáveis, não podemos julgá-la por tentar demonstrar com as suas construções o tamanho do poder divino.

O prólogo foi longo, mas finalmente consigo chegar onde eu queria: eu nunca fui a Roma, mas já passei diversas vezes pela Catedral da Sé. Ok, além do nome da “Santa Sé”, poucas coisas elas têm em comum, mas essa sensação de pequenez que eu descrevi sobre o templo romano é o que sinto quando visito aquela igrejinha do centro de São Paulo. Ela é linda. O projeto atual é novo, tem cerca de 60 anos, mas foi inspirado em igrejas medievais e tem um mobiliário autenticamente italiano.

Ela sempre está rodeada por doidões, mas
todo ano no dia 21 de agosto, vê milhares
dr doidões raulseixistas se reunirem ali
Não sou católica, mas aprendi a rezar o “Pai Nosso” e a “Ave Maria” quando criança, e não esqueci. Por isso, sempre que posso, entro lá para dar uma rezadinha e conversar com Deus. Na verdade, muitas vezes desvio o meu caminho para fazer isso e converso sim com o Deus, porque Ele é o mesmo de todo mundo, ou ele é todo mundo, tanto faz.

A Catedral me faz sentir pequena, repito. Passei muito tempo querendo entrar ali e só observando-a por fora. Ela já parecia grande, mas por dentro, é outra história.

Ela é um gigante de pedra. Meu olhar se perde ali dentro, abismada com as curvas, arcos e outros detalhes que o Jorge (meu professor de História da Arte) me ensinou a adorar. Outro dia vi um moço arrumando flores entre os bancos, em cima de um tapete vermelho. Era sábado à tarde, à noite deveria rolar um casamento. Penso na honra que deve ser realizar esse tipo de celebração ali, naquele lugar lindo.

A Catedral é um dos meus lugares preferidos da Capital (juro que em breve faço um post com o top 5), não só a construção em si, mas todo aquele entorno. Ali é o marco zero da cidade e bem naquela praça – a famooooosa Praça da Sé – acontece todo ano, no dia 21 de agosto – a chegada da Passeata em homenagem ao meu ídolo Raul Seixas. São muitas emoções vividas ali nos últimos anos, em torno de um monte de doidões gente boa ouvindo e tocando Raul.

16 janeiro 2013

Eu lembrei de contar a história do último post porque li nessa semana, com uns meses de atraso, admito, o livro “Nunca fui santo”, que o Mauro Beting escreveu com base no depoimento de São Marcos.

"PQP é o melhor goleiro do Brasil!"
Achei o livro emocionante, embora esperasse um pouco mais de detalhes pessoais e menos estatísticas. Como já era de se esperar, no papel, o depoimento ficou menos carismático do que nos meios audiovisuais, em que estamos mais acostumados a vê-lo.

O cara é o maior ídolo da minha geração. Foi o protagonista das conquistas em que eu mais vibrei. Vê-lo relembrando a campanha vitoriosa do Palmeiras na Libertadores de 1999 e os bastidores da defesa do pênalti do Marcelinho na semifinal da competição do ano seguinte – que foi tão comemorada como se fosse um título – encheu meus olhos de lágrimas. Além do riso incontido com as histórias divertidíssimas de sempre. Figura.

Destaco um momento que eu achei surpreendente: no capítulo sobre a Copa de 2002, São Marcos relembra que após a vitória sobre a Inglaterra nas quartas de final, o Felipão disse que, embora não fosse a mesma coisa, aquela vitória tinha um gostinho de revanche do Mundial de Clubes de 1999, em que o Palmeiras foi derrotado pelo Manchester United. Além do goleiro e do treinador, outros quatro integrantes da Seleção defendiam o Verdão na disputa contra a equipe inglesa.

No final do livro, percebi que além de meu ídolo como goleiro, ele também faz parte de um grupo de pessoas que eu admiro independentemente da profissão: aquelas que correm atrás dos seus sonhos. O menino palmeirense que jogava bola nos campinhos de terra batida de Oriente trabalhou muito conseguiu se consagrar no clube de coração e entrar para um hall restrito de ídolos do time do Palestra Itália.

Lendo a história dele fica nítido que nada acontece por acaso, que tudo na vida tem um porquê e que não existe acaso.

15 janeiro 2013

Com o Marcão, pode.

Por muito tempo - desde os 12 anos de idade quando eu decidi que queria ser jornalista e trabalhar com esporte – eu fui atormentada por tios, tias, amigos, conhecidos e vizinhos que me diziam que, para trabalhar com isso, eu teria que deixar o fanatismo de lado, teria que deixar o Palmeiras de lado para ser imparcial.

De certa forma, isso aconteceu depois que pisei pela primeira vez em uma redação de esportes. Em parte porque eu acreditava mesmo que sendo fanática, não conseguiria ser uma boa profissional. Ainda acho que isso é verdade, mas de uma forma mais ampla: todo fanatismo atrapalha e nunca vale a pena.

Não deixei de torcer pelo meu Palmeiras, embora a ansiedade tenha diminuído bastante. Na verdade, o que aconteceu foi que optei por não prestar muita atenção para não sofrer – e assim não demonstrar sofrimento. Mas foi na redação, e nas cabines dos estádios, que eu percebi que todo jornalista torce, por mais que não escreva, não fale ou não sinalize isso. Ser profissional não é não torcer, é conseguir fazer um bom trabalho mesmo torcendo.

A camiseta explica o momento: "groupie"
No entanto, se eu conseguia (e consigo) camuflar toda essa palmeirenssisse, o que eu nunca consegui foi esconder o carinho imensurável pelos meus ídolos. Os grandes jogadores que vestiram a camisa verde e branca seguem uma ordem hierárquica de idolatria no meu coração, em que a primeira posição é dividida por Felipão, Edmundo e Marcos.

Sempre imaginei o que eu faria se encontrasse com um dos três, antes e depois de “virar” jornalista. O único que eu encontrei até agora foi São Marcos. Da primeira vez que o vi, nada pude fazer além de segurar o gravador – estava no prédio da administração do Palestra, ao lado de onde será construída a nova Arena, numa coletiva sobre um programa de sócio-torcedor. Lembro dele, com um copo de cerveja nas mãos, dizer para os jornalistas: “gente, preciso ir no banheiro, mas to aí, viu?”, provando que aquele carisma da TV era real (não que eu tenha duvidado disso em algum momento).

Da segunda vez, foi tudo previamente programado. Eu sabia que ele seria o convidado do Mesa Redonda e que o horário de chegada dele bateria com o meu de saída do plantão, apenas cinco andares acima. Desci.

A tietagem não durou muito tempo, apenas um beijo e uma foto, o suficiente para encher esse coração palmeirense de alegria.

O momento foi gravado e acabou virando sinônimo de “tietagem” também no Gazeta Esportiva do dia seguinte. Fiquei envergonhada e até hoje não tive coragem de ver. Levei bronca de um colega de trabalho, mas todos os outros, inclusive os chefes, passaram a mão na minha cabeça: com o Marcão, pode.