31 outubro 2010

Hoje, caí de paraquedas num sarau na Biblioteca de São Paulo e adorei a experiência. Um dos poemas recitados foi "Moda do Corajoso" do brilhande Mário de Andrade. Não o conhecia, e meus olhos encheram-se de lágrimas ao ouvir os versos que muito sabiam dos meus sentimentos.

Divido com vocês o poema que me emocionou. A sensatez e a lucidez do poeta são o que mais me impressiona. É tudo verdade. (Principalmente a parte que diz que em 5 meses a paixão será arquivada...)

Moda do Corajoso  

(Mário de Andrade)

Maria dos meus pecados...
Maria, viola de amor...

Já sei que não tem propósito
Gostar de donas casadas,
Mas quem que pode com o peito!
Amar não é desrespeito,
Meu amor terá seu fim.
Maria há-de ter um fim.

Quem sofre sou eu, que importa
Pros outros meu sofrimentos?
Já estou curando a ferida.
Se dando tempo pro tempo
Toda paixão é esquecida.
Maria será esquecida.

Que bonita que ela é!... Não
Me esqueço dela um momento!
Porém não dou cinco meses,
Acabarão as fraquezas
E a paixão será arquivada.
Maria será arquivada.

Por enquanto isso é impossível.
O meu corpo encasquetou
De não gostar sinão duma...
Pois, pra não fazer feiúra,
Meu espírito sublima
O fogo devorador.
Faz da paixão uma prima,
Faz do desejo um bordão,
E encabulado ponteia
A malvadeza do amor.

Maria, viola de amor!...

02 outubro 2010

Voto de protesto: contra o quê?

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A cada eleição cresce o número de candidatos conhecidos pela população, mas de ambientes muito distintos da política. São cantores, atores, jogadores de futebol, dançarinas e até humoristas, que surgem tentando uma vaga em uma área que profissionalmente desconhecem.

Discutir política no Brasil, um pais que comprou a sua independência e que dá mais valor ao Carnaval do que à educação, é complicado. O voto é obrigatório e grande parte do eleitorado não enxerga uma relação direta entre o que escolhe nas urnas e uma melhoria efetiva em sua qualidade de vida.

Mesmo entre quem possui um grau aceitável de instrução é difícil encontrar alguém que saiba detalhadamente quais as obrigações e a área de atuação de um político, sobretudo no âmbito legislativo. Assim, o que chega ao conhecimento do público são apenas os escândalos que são noticiados pela imprensa. Os projetos de lei, de emendas parlamentares e sanções discutidos diariamente na Câmara e no Senado, raramente vêm a público.

“Nenhum político presta” e “Eles só pensam em dinheiro” são frases amplamente repetidas, principalmente em época de eleições. Mas mesmo que essa generalização fosse verdade, protestar votando em uma pessoa despreparada chega a ser um contra-senso, pois por mais boa vontade que se tenha, o que a levou a essa aventura? É utópico pensar que algum dos candidatos famosos esteja lutando por um Brasil melhor e não atrás do salário e benefícios que a vida pública traz e que não são poucos.

Embora qualquer cidadão, brasileiro e maior de idade, possa se candidatar, isso não garante que ele saiba o que fazer quando eleito. Os “políticos de carteirinha” pelo menos possuem experiência e formação teórica especifica para exercer o cargo ao qual estão, mais uma vez, concorrendo.
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