26 maio 2013

Somos tãooooo jóóóóóóóóvensssss

Demorei demais para respirar fundo e ter coragem de encarar o Renato Russo nas telonas. Quando eu vi o trailer de “Somos tão Jovens” me emocionei bastante e achei que fosse ter que assistir ao filme com uma caixa de lencinhos de papel em mãos. Engano meu: não derramei nenhuma lágrima.

Não gostei do que vi. Eu leio sobre o rock de Brasília desde os meus 12 anos de idade. Já ouvi aquela história que o filme conta – o Renato nos primórdios da carreira, quando ainda tocava na banda punk “Aborto Elétrico” – da boca de quase todos os que estão vivos e fizeram parte dela... Dinho, Fê, Flávio, Bonfá, Dado, Barone, Hebert, Clemente, etc.

Por isso, com esse repertório adquirido durante anos, achei o roteiro de Marcos Bernstein fraco, óbvio demais. Os discursos me pareceram construídos objetivamente, preocupados apenas em transmitir a informação de forma didática.

Uma coisa que me incomodou bastante também foi a construção do Renato para que ele pudesse ser consumido “pela família brasileira”. Uma das coisas que me passou pela cabeça logo que eu fiquei sabendo do filme foi: “vão mostrar o Renato punk, já sei que vou tampar os olhos quando mostrarem ele furando a orelha com o alfinete”. Adivinha: não mostraram! Esse fato, um dos mais marcantes do viés punk do cantor, é apenas citado pela dona Carmem em determinado momento.

Outro fato que demonstra o caráter “feito para a família” do filme é a forma como a sexualidade do Renato foi exposta. Não tiveram coragem de mostrar um beijo gay. Focaram absurdamente na “paixonite” dele pela Flávio (retratado como um baby, sendo que ele é apenas um ano mais novo do que o Fê) e camuflaram toda a preferência dele “por meninos” com a bonita história de amizade entre ele e a Aninha (que não existiu...).

O Renato que eu construí com o passar dos tempos era muito mais intenso do que o que eu vi na tela do cinema. O movimento punk brasileiro foi bem mais “punk”, rs, do que eles mostraram ali, sobretudo quando você vive na capital federal na época da ditadura. Outra cena que faltou: Renato perguntando aos milicos: “quantos livros você já leu na vida?”.

No final do filme, aparece o Capital Inicial tocando “Música Urbana”. A história de como essa música foi escrita é incrível... Fê e Flávio tinham os primeiros versos escritos por Renato na época do Aborto, eles e o Dinho quebraram a cabeça para continuar a música, não conseguiram. Pediram ajuda ao Renato que estava se recuperando depois de cortar um dos pulsos e ele disse na hora: “escreve aí...” e fechou a música.

Mas, claro, a família brasileira não pode admitir que o seu “ídolo” tenha cortado o pulso, talvez tentado o suicídio – ninguém sabe exatamente o porquê -, então, né. Pra que mostrar? Vamos ficar com a parte bonita da história. Nosso recorte especial.

Para encerrar, tenho mais duas coisas a dizer. A primeira é uma dica aos interessados nesse assunto: assistam o DVD “MTV Especial: Capital Inicial Aborto Elétrico”, de 2005. Ali eles contam toda essa história em detalhes, com entrevistas com os verdadeiros personagens, ajuda muito na distinção entre a realidade e a visão do roteirista/diretor.

A segunda é: mesmo com tantas críticas, acho importante levar Renato à massa. Fico aqui no meu cantinho enviando vibrações para que alguns sejam picados pela mosquinha da curiosidade e vão atrás da “verdade”.

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